Alice Brill: impressões ao rés do chão
Artist
Alice Brill
Curator
Giovanna Bragaglia
Place and Date
Instituto Moreira Salles, São Paulo, Brazil, Set-Jan 2016, and Poços de Caldas, Brazil, Jan-May 2016
Curatorial Text
Daughter of the painter Erich Brill and journalist Marte Brill, Alice was born in Cologne, Germany in 1920. At the age of 14, she migrated to Brazil to escape Nazism. In São Paulo, she took part in live model sessions at the Santa Helena Group, where she lived and made friends with the artists Mario Zanini, Paulo Rossi Osir and Alfredo Volpi, among others. In 1946, with a scholarship, she went to the United States, where she attended the University of New Mexico in Albuquerque, and the Art Students League in New York. There, she chose to study drawing, painting and photography classes - the latter chosen as a possible profession when she returned to Brazil. Her true passion, she said, was painting, a technique she presented at the I and the IX International Biennial of São Paulo (1951 and 1967) and in several individual and collective exhibitions throughout her life.
Back in Brazil in 1948, came up the opportunity to accompany the entourage of the Central Brazil Foundation in an inspection of works in the Center-West of the country, which would be an excellent beginning for her photographic career. However, only a few of her images were published in Habitat magazine, in which she would regularly collaborate with architecture photos, artist portraits and reproductions of artworks. Alice also worked as a photographer for the São Paulo Museum of Art (Masp) and for the Museum of Modern Art of São Paulo (MAM-SP), registering works of art and exhibitions. But her work was more prominent in portraits of families from the elite of São Paulo, showing herself to be the pioneer of spontaneous photography of children. In this way, the artist modernized the genre, going against the posed studio photograph of that period.
This exhibition presents a dimension that, although still little known, is present throughout the career of the photographer Alice Brill. They are the impressions of a world free from euphemisms. A humanized and unpretentious look that made not only official photos of deputies visiting indigenous communities, but caught the embarrassed and troubled indian woman; did not capture the beautiful panoramas of the Marvelous City (Rio de Janeiro), but registered the discontent and the complaints of its mistreated people; Did not value the monumental advance of the 400 year old São Paulo city, but exposed its "unhealthy" side, as described by Levi-Strauss in Tristes Tropicos. By shifting her camera to an undisguised everyday life, Alice's images help "to establish or restore the dimension of things and people," as a chronicle, to mention Antonio Candido, or life from the ground floor.
Português
Filha do pintor Erich Brill e da jornalista Marte Brill, Alice nasceu em Colônia, na Alemanha, em 1920. Aos 14 anos de idade, ela migrou para o Brasil para escapar do nazismo. Em São Paulo, participou de sessões de modelo-vivo no Grupo Santa Helena, onde conviveu e selou amizade com os artistas Mario Zanini, Paulo Rossi Osir e Alfredo Volpi, entre outros. Em 1946, com uma bolsa de estudos, seguiu para os Estados Unidos, onde frequentou a University of New Mexico, em Albuquerque, e a Art Students League, em Nova York. Lá, optou por cursar aulas de desenho, pintura e fotografia – esta última escolhida por ser uma possível profissão quando retornasse ao Brasil. Sua verdadeira paixão, dizia, era a pintura, técnica que apresentou na I e na IX Bienal Internacional de São Paulo (1951 e 1967) e em diversas exposições individuais e coletivas ao longo da vida.
De volta ao Brasil, em 1948, surgiu a oportunidade de acompanhar a comitiva da Fundação Brasil Central em uma inspeção de obras pelo Centro-Oeste do país, que viria a ser um excelente início para sua carreira fotográfica. No entanto, apenas algumas de suas imagens foram publicadas na revista Habitat, na qual ela passaria a colaborar regularmente com fotos de arquitetura, retratos de artistas e reproduções de obras. Alice também trabalhou como fotógrafa para o Museu de Arte de São Paulo (Masp) e para o Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), registrando obras de arte e exposições. Mas sua obra teve maior destaque nos retratos de famílias da elite paulistana, mostrando-se pioneira da fotografia espontânea de crianças. Por essa via, a artista modernizava o gênero, indo na contramão da fotografia de estúdio posada daquele período.
Esta exposição apresenta uma dimensão que, apesar de ainda pouco conhecida, está presente em toda a trajetória da fotógrafa Alice Brill. São as impressões de um mundo isento de eufemismos. Um olhar humanizado e despretensioso que fez não apenas fotos oficiais de deputados visitando comunidades indígenas, mas captou a índia constrangida e incomodada; não captou as belas panorâmicas da Cidade Maravilhosa, mas registrou o descontentamento e as queixas de seu povo maltratado; não valorizou o avanço monumental da São Paulo quatrocentona, mas expôs seu lado “não saudável”, como descreveu Lévi-Strauss em Tristes trópicos. Desviando sua câmera para um cotidiano sem disfarces, as imagens de Alice ajudam “a estabelecer ou restabelecer a dimensão das coisas e das pessoas”, como uma crônica, para não deixar de citar Antonio Candido, ou a vida ao rés do chão.
Giovanna Bragaglia